segunda-feira, 19 de junho de 2017

No Brasil, tudo ou nada?

Descrição para cegos: capa do livro A Ditadura é 
Assim. Nela, vê-se, acima, o título, seguido dos
 nomes do autor e ilustrador. No centro, desenho
 de um homem representando um ditador. Ele
 veste terno, botas e faixa de governante. Tem 
mão direita sobre uma coluna grega que 
esmaga pessoas. 
Por Rebeca Neto

        Concentrada, estudando sobre a Ditadura, não percebi em qual momento exatamente ela entrou no quarto. Conflitando com as ideias que ecoavam na minha mente, escutei uma voz conhecida lendo devagar um trecho do que eu acabara de escrever: “...a Ditadura...”. Quando olhei para o lado e identifiquei a dona da voz, com orgulho, eu sorri: era a minha irmã, de 6 anos, que estava aprendendo a ler.
“Bequinhas – como carinhosamente me chama -, o que é ‘Ditadura’?", disparou, com a curiosidade pertinente à sua idade, logo que a percebi deitada ao meu lado. Tentei utilizar uma linguagem adequada para atender seu pedido, mas, constatei que isso não seria suficiente para satisfazer o entusiasmo que a tomou no momento.

Adquiri o livro A Ditadura é Assim, segundo volume da Coleção de Livros para o Amanhã, para melhor apresentar o tema à minha irmã. Prontamente chegou em nossas mãos e ela já exclamou: “que livrinho lindo, Bequinhas” e pediu, com o jeito que só admite “sim”, para lermos juntas.
Idealizado e escrito por Equipo Plantel e ilustrado por Mikel Casal, logo nas primeiras páginas, o livro traz caricaturas de 24 ditadores de todo o mundo. A leitura se inicia com a comparação entre a Ditadura e um ditado, pois, tal como neste, nesse há uma pessoa que diz o que é para fazer e todos fazem, porque assim foi determinado.
        Mais adiante, uma das páginas tem a ilustração de um cenário escuro, em que vê-se uma cela e alguém atrás dela. “Bequinhas, por que ele está preso?”, indagou-me. Pensei um pouco e decidi responder lendo o que estava escrito naquela mesma página:

“Todo mundo obedece ao ditador só porque tem medo dele.
E quem não obedece e nem tem medo é castigado”

        “Mas isso não é justo”, exclamou a minha irmãzinha quando terminei de ler o trecho acima. Prossegui com a leitura e, enquanto lia o fragmento abaixo, a pequena me surpreendeu ao relacioná-lo a um de seus desenhos animados favoritos:

“Aqueles que pensam de outro jeito e DIZEM
o que pensam são malvistos e maltratados.
E muitas vezes passam por situações muito ruins.
Tem gente que precisa até sair do país,
porque não consegue se defender”

        Expliquei a ela que a situação em que alguém precisa deixar seu país por dizer o que pensa chama-se “exílio”. Rapidamente, ela lembrou-se da animação A Guarda do Leão – proveniente do filme O Rei Leão – e narrou: “Scar, o tio de Simba, foi exilado das terras do reino. Mas isso aconteceu porque ele foi malvado e matou o seu irmão. Então, se as pessoas só queriam falar o que pensam, por que foram expulsas?”. Senti-me na obrigação de não responder, para que, com a leitura, ela pudesse construir sua própria visão.
        Porém, posteriormente, o livro retoma esse pensamento:

“Todos trabalham, produzem, mas também pensam.
E pensando, é claro, vão percebendo muita coisa”

        Por fim, o livro traz, em suas últimas páginas, o seguinte trecho:

“E aí, quando acaba a história da ditadura,
começa a história da... LIBERDADE”

        Ela abriu, então, um sorriso esperançoso, digno de finais de contos de fadas. Terminada a leitura, a pequena, novamente, pegou-me de surpresa, ao perguntar: “Bequinhas, mas, depois de tudo o que fizeram, o que aconteceu com esses ditadores? Eles foram presos?”. Pensei um pouco. No Brasil, tudo ou nada? Procurei palavras e, sem jeito, respondi: “no Brasil, depende”. 

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