Descrição para cegos: Antiga certidão de óbito sobre alguns jornais. Imagem reproduzida do livro Direito à Memória e à verdade (2007) |
Se tomarmos como base a
importância da História enquanto alicerce na reflexão de valores e transformação
social, talvez a gente consiga compreender a dimensão do Direito à Verdade e à
Memória.
Para quem não conhece,
esse direito busca solucionar os casos de desaparecimentos, mortes, opressões
que aconteceram no Brasil e foram esquecidos ou não desvendados pela queima de
arquivo, alteração de documentos, ou seja, pelo governo/poder ter ocultado e
até manipulado a verdade. E vai mais além, o Direito à Verdade e à Memória visa
facilitar o acesso à informação, possibilitando, assim, a descoberta de
caminhos, pessoas, que possam contribuir para a ressignificação do
passado.
Quase 500 nomes formam uma
lista de pessoas desaparecidas só no período da Ditadura Militar. Pessoas que
lutaram, opinaram, agiram. Pessoas sequestradas, torturadas, mortas e que
sumiram sem deixar nenhuma pista. As cinzas dos arquivos queimados tiveram mais
dignidade do que as tantas pessoas enterradas em covas clandestinas no nosso
país e até fora dele. Mais dignidade ainda do que a família dessas pessoas,
muitos até hoje sem entender como perdeu um ente querido, e mais, sem ter tido
sequer o direito de sepultá-lo.
Mas vale salientar que, ao
contrário do que muitas pessoas pensam, o Direito à Verdade e à Memória não
olha apenas para os acontecimentos relativos ao regime militar, nem o Brasil de
hoje foi construído apenas em cima da história que os livros da escola contam.
Índios, mulheres, negros, homossexuais, dentre outros grupos étnicos ou sociais,
tiveram sua história escrita pela opressão, discriminação e tortura. Por trás
do "Brasil verde e amarelo" existe um "Brasil vermelho",
marcado pelo sangue derramado e pela violência das camadas de poder. E é
justamente o resgate de memórias e a busca [incansável] pela verdade que pode
propiciar a justiça e, ainda que minimamente e tardiamente, consertar o mal
causado a famílias, grupos sociais, culturas e etnias.
Re-significar o passado. A investigação desses arquivos do passado não só
permite encontrar pistas sobre o paradeiro das pessoas desaparecidas, mas
também é uma porta de acesso a novas histórias. Pelo relato de pessoas e pelas
peculiaridades encontradas nesses documentos, se pode escrever novas faces de
uma mesma história.
Significar o presente. O resgate da história, a busca por novas memórias
pode também dar sentido às atuais lutas sociais. Mais que isso, a partir da
luta por esse resgate social, podemos re-significar também o futuro, com um
novo jeito de fazer história, de refletir os nossos valores sociais no decorrer
do tempo.
Andrezza Carla
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