segunda-feira, 20 de novembro de 2017

“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia...”

Descrição para cegos: capa do disco “Chico Buarque”, de 1978. Nela, em primeiro plano, Chico Buarque aparece sorrindo para a câmera e, atrás dele, algumas plantas.


Por Marina Ribeiro

Ao voltar ao Brasil em 1970, depois de um autoexílio na Itália, Chico Buarque encontrou um regime ainda mais repressivo, sob o governo do presidente Médici. Censura em todas as partes perseguiam compositores como ele. Enquanto isso, uma onda nacionalista crescia, representada por músicas como Eu te amo, meu Brasil, da dupla Dom & Ravel.

Foi nesse contexto que Chico escreveu uma de suas mais famosas músicas de protesto contra a ditadura. Apesar de Você foi lançada em 1970 como um compacto simples (formato de disco de vinil com 8 polegadas, trazia uma música de cada lado) e logo fez sucesso, atingindo a marca de 100 mil cópias vendidas e sendo tocada nas rádios de todo o Brasil. A letra, que criticava o regime, principalmente o presidente, estava disfarçada como uma briga de casal, não tendo problemas para ser inicialmente aprovada pela censura.
Porém, no ano seguinte, surgiram comentários de que o você na letra da música se referia ao presidente Emílio Médici (“Hoje você é quem manda/ falou, tá falado/ não tem discussão”(...) “Apesar de você/ amanhã há de ser outro dia”). A justificativa dada por Chico, de que o você seria uma mulher autoritária, não convenceu. Assim, a música foi censurada e só voltou a ser tocada nas rádios do país em 1978, quando fez parte do álbum Chico Buarque.
Depois desse episódio, o compositor continuou a sofrer censura, tendo que recorrer a pseudônimos como Julinho da Adelaide para ter suas canções aprovadas.


"Apesar de você" – versão original de 1970
 

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