Por
Cibelle Torres
Vanderley Caixe procurando pelo sono
ou recordando-se de Dionila camponesa; atormentado na pequena cela ou passeando
por entre outros presos no pátio da prisão; pensando no novo homem que vive
para o capital ou tomado pelo silêncio quando chega a noite em Presidente
Wenceslau, narra por meio de 19 poemas os momentos vividos por ele enquanto
esteve na prisão.
Em 1969, na região de Ribeirão Preto,
Vanderley e alguns jovens estudantes, operários e camponeses foram presos e
torturados, porém, mesmo encarcerados, seguiram lutando por meio de denúncias,
protestos e greves de fome; e, entre lutas e torturas, os poemas foram
surgindo.
Os versos escritos em 1973 que compõem
o livro 19 poemas da prisão e um canto
da terra são marcados pelo desejo de uma sociedade mais justa. Além dos
registros da prisão, por meio do poema Dionila
Camponesa,o livro conta um pouco do que Vanderley viveu na Paraíba.
Dionila, personagem que encerra esta obra, foi despejada de sua casa na cidade
de Pedras de Fogo, litoral Sul paraibano.
Dionila Camponesa
Dionila Camponesa despejada,
lavoura destruída e trecos no chão.
Sessenta e oito anos amainando a
terra,
amanaiando os filhos, produzindo o
nosso pão.
Dionila da terra semente,
da terra o ventre,
do filho o chão.
Oitocentos mil pequenos
propietários,
quatrocentos e cincoenta mil
posseiros e,
dois milhões de pequenos
arrendatários,
/juntos na expulsão.
Acompanhado, os tratores chegaram
com a
polícia e a ordem do juiz.
Não ficou a casa,
/não ficou planta no chão.
Sua lavoura destruída
e seus trecos debaixo do pé de pau.
Mais uma favela vai ser construída
de despejo,
de desemprego. De toda a injustiça
do mundo.
(...)
Vanderley
Caixe deixou para a Paraíba muito mais que poesia. Durante o período que viveu
em João Pessoa, de 1976 a 1994, ele criou, juntamente com o arcebispo D. José
Maria Pires, o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil. Atuou
intensamente na defesa dos camponeses, chegando a secretário geral da
Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais e, ainda na capital paraibana,
o advogado, jornalista e poeta também ajudou a fundar o PT, partido pelo qual
foi candidato a prefeito em 1986.
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