sexta-feira, 28 de abril de 2017

Poemas do cárcere

Descrição para cegos: foto do livro citado no texto
 em cima de outros livros. A capa do apresenta
 uma parede de tijolos que lembra os 
muros da prisão e, sobre ela, estão
 escritos os nomes da obra e do autor.
Por Cibelle Torres

Vanderley Caixe procurando pelo sono ou recordando-se de Dionila camponesa; atormentado na pequena cela ou passeando por entre outros presos no pátio da prisão; pensando no novo homem que vive para o capital ou tomado pelo silêncio quando chega a noite em Presidente Wenceslau, narra por meio de 19 poemas os momentos vividos por ele enquanto esteve na prisão.
Em 1969, na região de Ribeirão Preto, Vanderley e alguns jovens estudantes, operários e camponeses foram presos e torturados, porém, mesmo encarcerados, seguiram lutando por meio de denúncias, protestos e greves de fome; e, entre lutas e torturas, os poemas foram surgindo.


Os versos escritos em 1973 que compõem o livro 19 poemas da prisão e um canto da terra são marcados pelo desejo de uma sociedade mais justa. Além dos registros da prisão, por meio do poema Dionila Camponesa,o livro conta um pouco do que Vanderley viveu na Paraíba. Dionila, personagem que encerra esta obra, foi despejada de sua casa na cidade de Pedras de Fogo, litoral Sul paraibano.

Dionila Camponesa
Dionila Camponesa despejada,
lavoura destruída e trecos no chão.
Sessenta e oito anos amainando a terra,
amanaiando os filhos, produzindo o nosso pão.

Dionila da terra semente,
da terra o ventre,
do filho o chão.
Oitocentos mil pequenos propietários,
quatrocentos e cincoenta mil posseiros e,
dois milhões de pequenos arrendatários,
/juntos na expulsão.

Acompanhado, os tratores chegaram com a
polícia e a ordem do juiz.
Não ficou a casa,
/não ficou planta no chão.
Sua lavoura destruída
e seus trecos debaixo do pé de pau.

Mais uma favela vai ser construída de despejo,
de desemprego. De toda a injustiça do mundo.
(...)


Vanderley Caixe deixou para a Paraíba muito mais que poesia. Durante o período que viveu em João Pessoa, de 1976 a 1994, ele criou, juntamente com o arcebispo D. José Maria Pires, o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil. Atuou intensamente na defesa dos camponeses, chegando a secretário geral da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais e, ainda na capital paraibana, o advogado, jornalista e poeta também ajudou a fundar o PT, partido pelo qual foi candidato a prefeito em 1986.

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