domingo, 13 de julho de 2014

1964: uma dose de poesia numa taça desconhecida

Descrição para cegos: Desenho da bandeira nacional com um homem nu amarrado na faixa “Ordem e Progresso” como em um pau de arara.
Era madrugada, e acordei assustado. Tive um sonho. Foi um pesadelo. Suspirei, e fiquei feliz por ter conseguido acordar. Triste, porém, pelo fato de que a consciência que me veio ter sido um tanto dura.

Viajei até os anos sessenta, me despi dos meus trajes e adereços presentes. Eu mesmo era o grito das ruas ensanguentadas. Era a voz da frente, que mesmo abafada, buscava o auto clarear. Me senti burlado, enganado.

Me via nos braços, eu mesmo sendo os braços de bravo da UNE, das mães e dos pais ocupados na preocupação de um regime que não media limites em suas ações. Eu fui ao regime militar. Eu fui ao Brasil que chorou.

Vivi a tristeza de um povo, eu mesmo fiquei tão triste. Fui aos anos noventa, cheguei aos anos dois mil. Senti que cheguei ao meu eu, ao momento presente. Senti que há muitas lembranças, ainda, lá atrás, que clamam vir ao presente, clamam pular o pesadelo, acordar, e respirar o ar, que um dia lhes tomaram.
         
                                                                                         Normando Junior

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