Por Iago Sarinho
Descrição para cegos: a imagem mostra o Diário Oficial da União com a Exoneração de Ricardo Melo do Cargo de Diretor Presidente da EBC circulada em vermelho. |
Criada através do decreto
nº 6.246 de 24 de outubro de 2007, a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) controla
uma rede de emissoras de radiodifusão públicas e de caráter educativo. A EBC
aglomera em sua estrutura e sob a sua responsabilidade, entre outros veículos,
a TV Brasil, a Agência Brasil e a TV NBR.
O estatuto social da
empresa, regulamentado pelo decreto nº 6.689 em dezembro de 2008, determina um
mandato de quatro anos para o Diretor Presidente, designado pela Presidência da
República. É fixo e não pode coincidir com o mandato presidencial, de modo que se
possa preservar a estrutura e linhas editoriais da empresa e seus veículos de
forma minimamente independente do comando central da república e de eventuais
modificações oriundas de processos eleitorais.
A EBC ainda conta com um Conselho Curador enquanto órgão de controle social. Este, apesar de não nomear o comando da rede, pode indicar sua saída, além de ter importante papel na definição, tanto da linha editorial dos veículos, quanto nas definições estruturais e administrativas tomadas pela empresa.
Como uma das primeiras
medidas adotadas pelo Presidente interino Michel Temer, Ricardo Melo, Diretor Presidente
nomeado por Dilma Rousseff no dia 3 de maio de 2016 e com mandato vigente até
2020, foi exonerado do cargo e substituído por Laerte Rimoli, um dos
coordenadores da campanha de Aécio Neves em 2014 e assessor da Câmara dos Deputados
durante o mandato de Eduardo Cunha.
A medida adotada pelo
Presidente interino, que vai de encontro ao estatuto da EBC e sua autonomia,
foi contestada no STF no último dia 17, através de ação de Ricardo Melo,
requerendo o cumprimento do estatuto social e a anulação do ato presidencial. A
principal argumentação é de que a sua nomeação é um ato jurídico perfeito, um
dos princípios básicos do sistema democrático. Ainda não houve posicionamento
ou decisão do STF sobre o caso.
A ação de Michel Temer
rapidamente ganhou repercussão e para além dos grupos que detém o monopólio da
comunicação no país e que tinham na EBC um contraponto ao apresentar uma grade
de programação divergente do modelo padrão da radiodifusão brasileira, vem
sendo recebida de forma muito negativa por comunicadores, professores,
estudantes e a sociedade civil organizada.
Em todas as regiões do
país, foram e seguem sendo organizados atos contrários à medida do Presidente interino,
canalizados pela página “Frente em defesa da EBC e da Comunicação Pública” na
rede social Facebook. A página tem recebido o engajamento de diversos grupos e
segmentos da sociedade que defendem uma comunicação pública, independente e plural.
Uma das atividades da
frente, é um abaixo assinado virtual que já conta com mais de 10 mil
assinaturas. O documento pode ser acessado e assinado através deste link (Abaixo assinado em defesa da EBC).
Em mais um dos
desdobramentos do caso, ao longo da semana passada, em informação veiculada em
diversos meios de comunicação da Paraíba, foi divulgada uma articulação para a
indicação, por intermédio do Senador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB), do
radialista Fabiano Gomes para assumir uma das diretorias da empresa. Fabiano
foi um dos coordenadores da campanha para o Governo da Paraíba, em 2014, do
Senador tucano.
Assim como a exoneração
de Ricardo Melo, a indicação de Fabiano Gomes gerou revolta em diversos
segmentos da comunicação no estado e entre os movimentos sociais, já que ele,
dentre outras atividades é apresentador de programas “policialescos” e
conhecido no estado como um adversário da luta pela garantia dos direitos
humanos.
Entre as principais
reações, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba em
conjunto com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), lançaram nota de
repúdio na qual criticam a indicação de Fabiano Gomes “por ele representar o
que há de mais atrasado no rádio paraibano e por sua falta de compromisso com a
ética e com os direitos humanos”.
Com a exoneração de
Ricardo Melo e a possível nomeação de Fabiano Gomes, Temer e sua equipe demonstram
que além de pouco democráticos, desconhecem a função social da comunicação
pública e colocam em prática o que alegavam vir sendo feito pelo governo Dilma,
o efetivo aparelhamento da empresa pública, objetivando transformá-la em uma
mera propagadora do discurso do Governo Federal.
Caso o STF não derrube a
medida que exonerou Ricardo Melo e contribua para o desmanche da EBC, já dá
para imaginar um “Domingão do Faustão” no lugar de programas como o “Samba na
Gamboa”.
Confira na íntegra a nota
do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba e da Fenaj em repúdio pela indicação de
Fabiano Gomes para a EBC:
NOTA DE REPÚDIO AO GOVERNO GOLPISTA
PELA INDICAÇÃO DE FABIANO GOMES À DIREÇÃO DA EBC
O Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Estado da Paraíba e a Federação Nacional dos Jornalistas
(Fenaj) vêm a público manifestar seu repúdio à indicação do radialista Fabiano
Gomes à Direção da Empresa Brasileira de Comunicação – EBC, tão importante para
a sociedade, que tem como objetivo dar vez e voz à população e estimular a
participação dos vários segmentos indiscriminadamente com vistas ao
empoderamento social da comunicação pública pelas pessoas, por ele representar
o que há de mais atrasado no rádio paraibano e por sua falta de compromisso com
a ética e com os direitos humanos.
A nomeação do Sr. Fabiano Gomes à EBC
consiste numa afronta à cidadania e ao povo paraibano, em especial às mulheres,
que, em episódio não tão distante, já foram fortemente violentadas em seu
programa de Rádio, com palavras ofensivas, demonstrando seu caráter
preconceituoso e misógino.
Portanto o Sr. Fabiano Gomes não possui
nenhum preparo profissional para assumir a direção de uma empresa pública da
magnitude da EBC.
Sindicato
dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba
Federação
Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
João
Pessoa, 30 de maio de 2016
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