Descrição para cegos: mostra, da esquerda para a direira, os jogadores Afonsinho, Paulo Cézar Cajú e Nei da Conceição com a frase "Barba, Cabelo e Bigode" escrita no centro da imagem. |
Por Edgley Lemos
Dentro
de campo o trio formado pelos meias Afonsinho e Nei Conceição, além do atacante
Paulo Cézar Caju, foi bicampeão carioca em 1967 e 68 e campeão da Taça Brasil
de 1968. Fora dos gramados, eles eram considerados subversivos por suas
posturas contestadoras diante da crescente influência do regime militar na
gestão do futebol brasileiro. A história virou filme pelas mãos e o olhar do
diretor Lucio Branco e chegou às telas recentemente.
Não
é segredo que durante a ditadura militar brasileira os generais utilizaram o
futebol como meio de promoção e de fortalecimento da estrutura de poder do
regime. Fato parecido, aliás, aconteceu em outras ditaduras da América do Sul,
o chamado Cone Sul, como na Argentina, Chile e Bolívia, por exemplo.
A
relação promíscua entre dirigentes de clubes e o regime militar era resultante
do clientelismo desses cartolas em relação à CBD, precursora da atual CBF, que
na época era uma entidade do governo brasileiro e, por isso, também regida por
militares. Alguns clubes até adotaram práticas repressivas para com os seus
jogadores, transformando o ambiente em pequenos quartéis.
Os
jogadores da época tinham poucos direitos reconhecidos pelos clubes, com poucos
direitos e muitos deveres. Nesse contexto, entre as décadas de 1960 e 1970, três
jogadores do Botafogo carioca – Afonsinho, Paulo César Caju e Nei Conceição – se
destacavam em campo e fora dele, por serem considerados “subversivos” pela ótica
dos que comandavam o futebol.
Paulo
Cézar Caju sempre se destacou pela personalidade forte, seja com a bola nos pés
ou a caneta nas mãos. Ainda quando jogador, ganhou o apelido de Caju por ter
voltado de uma excursão aos Estados Unidos no fim dos anos 1960 com os cabelos
pintados de vermelho para homenagear o movimento dos Panteras Negras.
Afonsinho
era um meia armador dentro das quatro linhas e fora do riscado estudava Medicina
na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e também era engajado no
movimento estudantil. Politizado, iniciou uma briga na justiça desportiva com a
diretoria do Botafogo para garantir o direito de se transferir para outros
clubes. Sua história, aliás, foi contada no documentário Passe Livre, do diretor Oswaldo Caldeira, lançado em 1974.
Por
ter uma postura questionadora, foi afastado pela diretoria do Botafogo enquanto
não tirasse a barba e cortasse os cabelos, após ser emprestado ao Olaria, clube
do subúrbio do Rio de Janeiro, em 1971. Ao retornar ao time da estrela
solitária, continuou afastado e impedido até mesmo de treinar. Os dirigentes do
Botafogo se recusavam a negociar o seu passe - o vínculo do jogador com o clube
- com outros times. Com isto, Afonsinho foi um dos primeiros jogadores do
Brasil a conseguir na justiça desportiva o passe livre, que viria a se tornar
regra com a Lei Pelé, em 1998.
Esta
história e tantas outras dos seus companheiros de Botafogo como Nei Conceição
estão reunidas no documentário Barba,
Cabelo e Bigode, do cineasta Lúcio Branco, lançado no dia 21 de maio. O
documentário de duas horas de duração foi lançado durante o Festival CineFoot ,voltado
para filmes relacionados ao futebol, no Rio de Janeiro.
Confira o vídeo de divulgação para a campanha de financiamento coletivo que ajudou a finalizar o filme:
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