segunda-feira, 20 de junho de 2016

Afonsinho, Nei e Caju: os desobedientes civis

Descrição para cegos: mostra, da esquerda para a direira, os jogadores Afonsinho, Paulo Cézar Cajú e Nei da Conceição com a frase "Barba, Cabelo e Bigode" escrita no centro da imagem. 
Por Edgley Lemos

Dentro de campo o trio formado pelos meias Afonsinho e Nei Conceição, além do atacante Paulo Cézar Caju, foi bicampeão carioca em 1967 e 68 e campeão da Taça Brasil de 1968. Fora dos gramados, eles eram considerados subversivos por suas posturas contestadoras diante da crescente influência do regime militar na gestão do futebol brasileiro. A história virou filme pelas mãos e o olhar do diretor Lucio Branco e chegou às telas recentemente.
Não é segredo que durante a ditadura militar brasileira os generais utilizaram o futebol como meio de promoção e de fortalecimento da estrutura de poder do regime. Fato parecido, aliás, aconteceu em outras ditaduras da América do Sul, o chamado Cone Sul, como na Argentina, Chile e Bolívia, por exemplo.

A relação promíscua entre dirigentes de clubes e o regime militar era resultante do clientelismo desses cartolas em relação à CBD, precursora da atual CBF, que na época era uma entidade do governo brasileiro e, por isso, também regida por militares. Alguns clubes até adotaram práticas repressivas para com os seus jogadores, transformando o ambiente em pequenos quartéis.
Os jogadores da época tinham poucos direitos reconhecidos pelos clubes, com poucos direitos e muitos deveres. Nesse contexto, entre as décadas de 1960 e 1970, três jogadores do Botafogo carioca – Afonsinho, Paulo César Caju e Nei Conceição – se destacavam em campo e fora dele, por serem considerados “subversivos” pela ótica dos que comandavam o futebol.
Paulo Cézar Caju sempre se destacou pela personalidade forte, seja com a bola nos pés ou a caneta nas mãos. Ainda quando jogador, ganhou o apelido de Caju por ter voltado de uma excursão aos Estados Unidos no fim dos anos 1960 com os cabelos pintados de vermelho para homenagear o movimento dos Panteras Negras.
Afonsinho era um meia armador dentro das quatro linhas e fora do riscado estudava Medicina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e também era engajado no movimento estudantil. Politizado, iniciou uma briga na justiça desportiva com a diretoria do Botafogo para garantir o direito de se transferir para outros clubes. Sua história, aliás, foi contada no documentário Passe Livre, do diretor Oswaldo Caldeira, lançado em 1974.
Por ter uma postura questionadora, foi afastado pela diretoria do Botafogo enquanto não tirasse a barba e cortasse os cabelos, após ser emprestado ao Olaria, clube do subúrbio do Rio de Janeiro, em 1971. Ao retornar ao time da estrela solitária, continuou afastado e impedido até mesmo de treinar. Os dirigentes do Botafogo se recusavam a negociar o seu passe - o vínculo do jogador com o clube - com outros times. Com isto, Afonsinho foi um dos primeiros jogadores do Brasil a conseguir na justiça desportiva o passe livre, que viria a se tornar regra com a Lei Pelé, em 1998.

Esta história e tantas outras dos seus companheiros de Botafogo como Nei Conceição estão reunidas no documentário Barba, Cabelo e Bigode, do cineasta Lúcio Branco, lançado no dia 21 de maio. O documentário de duas horas de duração foi lançado durante o Festival CineFoot ,voltado para filmes relacionados ao futebol, no Rio de Janeiro.
Confira o vídeo de divulgação para a campanha de financiamento coletivo que ajudou a finalizar o filme: 


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