Descrição para cegos: A foto mostra o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro agente da ditadura a ser reconhecido como torturador pela justiça brasileira, olhando diretamente para a câmera. |
Por Edgley Lemos
A
despeito do que foi o dia de votação do prosseguimento do processo de
impeachment, no último domingo, uma lembrança perturbadora e preocupante foi
trazida a tona pelo deputado federal pelo PSC do Rio de Janeiro, Jair
Bolsonaro. Sempre buscando chamar atenção, em todo e qualquer pronunciamento, o
deputado exaltou o Coronel Carlos Brilhante Ustra em seu voto a favor do
impedimento da presidenta Dilma. “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o
pavor de Dilma Rousseff’’, disse.
Para os mais jovens, ou mesmo os mais desinformados, este fato pode passar batido, pode ser ignorado. Mas uma rápida visita à história do Brasil pode ajudar a ligar os pontos e sentir o estômago revirar de nojo pela atitude de Bolsonaro.
Ustra
foi coronel do Exército e dirigiu, entre setembro de 1970 e janeiro de 1974, o
Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa
Interna, conhecido como Doi-Codi. Durante esse período, ocorreram ao menos 45
mortes e desaparecimentos forçados por agentes do destacamento.
Em
2008, Brilhante Ustra se tornou o primeiro torturador reconhecido pela justiça
brasileira. E em 2012, foi condenado a pagar indenização à família do
jornalista Luiz Eduardo da Rocha Melino, que foi preso em Santos, em julho de
1971, e morto. Também foi responsável por torturar a atriz e ex-deputada Bete
Mendes, que anos depois o reconheceu.
Quatro
meses após a posse de Sarney no lugar de Tancredo Neves, em viagem ao Uruguai,
a então deputada reconheceu o coronel Carlos Brilhante Ustra na embaixada
brasileira em Montevidéu e o denunciou ao presidente, que à época nada fez,
para evitar uma crise com as Forças Armadas nos primeiros meses da chamada Nova
República.
Sobre
o coronel reformado, falecido em 15 de outubro de 2015, aos 83 anos, em
decorrência de um câncer de próstata, recaem acusações graves. De acordo com o
relatório final da Comissão Nacional da Verdade, Ustra é uma das 377 pessoas
responsáveis, direta ou indiretamente, por torturar e assassinar durante a
ditadura militar. Por meio do projeto "Brasil Nunca Mais", a
Arquidiocese de São Paulo denunciou mais de 500 casos de tortura nas
dependências do Doi-Codi no período em que o "Dr. Tibiriçá"
(condinome usado por ele) esteve no comando.
Com
toda esta ficha, o simbolismo da saudação de Bolsonaro a este personagem de um
passado obscuro da nossa história é muito maior do que a simples vontade de
criar polêmica e ganhar manchetes, mas uma apologia à tortura e uma provocação
perturbadora a alguém que foi vítima disso. Jair Bolsonaro mostra mais uma vez
a sua cara.
Mas
ele poderia ser enquadrado no artigo 287 do Código Penal Brasileiro, por
apologia de fato criminoso ou de autor de crime?
A
resposta é: Não. O deputado tem imunidade parlamentar, o que lhe garante o
direito de ser "inviolável civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos", de acordo com o artigo 53 da Constituição
Federal.
Não
é segredo para ninguém que Dilma Rousseff participou da luta armada durante o
regime militar, foi presa e torturada. Seu governo certamente tem falhas,
passíveis de questionamentos e debate, mas admitir que uma ofensa pessoal como esta seja feita é esquecer que, apesar de ser uma
presidenta contestada, ela é um ser humano e precisa ser respeitada.
por que ? imunidade parlamentar ? entao se o artigo 53 da Constitucao Federal, garante direito de ser "inviolavel civil e penalmente, por quaisquer de suas opinioes e votos"...esta errado esse artigo
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