terça-feira, 26 de setembro de 2017

O calvário de Frei Tito


Descrição para cegos: foto de Frei Tito
olhando para a câmera.

 Por Marina Ribeiro




Nascido em Fortaleza, Tito de Alencar Lima mudou-se para Recife em 1963, com apenas 18 anos, para assumir a direção da Juventude Estudantil Católica. Em 1966, entrou para o noviciado dos dominicanos em Belo Horizonte e, no ano seguinte, foi estudar Filosofia na USP.
       Em 1968, Tito foi preso por sua participação em um congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes (UNE), no interior de São Paulo. Perseguido pela repressão militar, foi preso novamente em novembro de 1969, acusado de colaborar com Carlos Marighella, um dos líderes do movimento contra a ditadura. Levado para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) pelo delegado Sergio Fleury, ele foi torturado por 30 dias, antes de seguir para o Presídio Tiradentes.


Em fevereiro de 1970, Tito foi levado para os porões da Operação Bandeirante (Oban), conhecida como “sucursal do inferno”. Lá, sofreu sessões de choques, queimaduras e pauladas por todo o corpo. Seus torturadores queriam informações sobre o congresso clandestino da UNE e os nomes de outros religiosos que estavam “tramando” contra os militares.
Esgotado pelos dias de tortura, tentou tirar a própria vida, mas foi levado ao hospital antes de pôr um fim ao seu sofrimento. Durante quase um ano em que esteve preso na Oban, Frei Tito escreveu sobre seu calvário. Descreveu seu dia a dia na prisão e, com muitos detalhes, as torturas às quais fora submetido. Seus escritos se tornaram um símbolo na luta pelos direitos humanos.
Em 1971, após ser banido do país, ele foi para o Chile, de lá para a Itália, e finalmente para Paris, onde foi acolhido pelos dominicanos. As memórias do seu martírio o acompanharam. Tentou ajuda psiquiátrica, mas nada conseguiu lhe trazer paz. Uma vez disse ter visto Fleury, um de seus torturadores, no convento onde morava. Cometeu suicídio em 10 de agosto de 1974 e foi enterrado na França. Seu corpo foi trazido ao Brasil nove anos depois, ocasião em que uma missa, com a presença de quatro mil pessoas, foi celebrada.



Trecho do relato de Frei Tito:
“Fui levado do presídio Tiradentes para a “Operação Bandeirantes”, OB (Polícia do Exército), no dia 17 de fevereiro de 1970, 3ª feira, às 14 horas. O capitão Maurício veio buscar-me em companhia de dois policiais e disse: ‘Você agora vai conhecer a sucursal do inferno’. Algemaram minhas mãos, jogaram me no porta-malas da perua. No caminho as torturas tiveram início: cutiladas na cabeça e no pescoço, apontavam-me seus revólveres”.
Todo o relato pode ser lido aqui. 
 

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