Por Matheus Couto
Em maio de 1968, a juventude mundial iniciou um movimento de tomada das ruas em protestos contra o status quo. Na França, uma greve geral; nos Estados Unidos, uma resposta contrária à Guerra do Vietnã; e no Brasil, a luta contra o regime militar em processo. Esta época de efervescência veio a se tornar uma das fases mais marcantes do século XX pelas suas proporções mundiais e causou efeitos e influências em diversas sociedades, desde o seu início até os dias de hoje.
A canção Maio 68, composição de Jorge Portugal gravada pelo músico baiano Raimundo Sodré, aborda esse período referenciando poeticamente o caloroso e árduo processo vivido pela sociedade e a juventude daquela época no Brasil e no mundo simultaneamente.
A música trata do assunto com metáforas, eufemismos e diversas outras formas que traçam os acontecimentos, como no trecho:
"Havia uma lacrimogênica ilusão
Palavras de ordem sob a calça Lee."
Palavras de ordem sob a calça Lee."
Aqui, faz uma referência que permanece atual: o uso de gás lacrimogênio, comum na repressão aos movimentos de protesto. Há ainda uma especificidade: a calça Lee, objeto de consumo e desejo de todos os jovens da época. Aliás, jovens esses que foram os protagonistas desses movimentos que marcaram o ano de 1968, seja no Brasil ou na França, como quando ele cita Cohn Bendis, líder do movimento estudantil na revolução francesa de 68, e também Vladimir Palmeira e Luís Travassos, líderes de grandes manifestações estudantis daqui.
Raimundo Sodré contextualiza com maestria a época e a fase e mentalidade vivida pelos jovens e sociedade em que se passaram os fatos. Cita as pichações nos muros, os hippies, as influências ideológicas de Marx e Khrisnamurti nos que buscavam mudar a sociedade a partir da revolução e, ainda, os grandes ícones da cultura brasileira que utilizaram-se da arte para endossar a revolução: "Tropicaetanos (a tropicália, movimento cultural surgido durante o regime, e Caetano Veloso, um dos líderes deste); excelsos (José Celso Martinez Corrêa, tropicalista do teatro), travassos, gizs (Gilberto Gil)." Há ainda referência a ordem unida militar, que governava o Brasil à época: "Meia liberdade (Nosso sonho) que se solta / Mas não volta / Na meia volta volver" e finaliza lembrando o peso da perda e a esperança que renasce sempre da luta daqueles que se sacrificam pelo outro na certeza de que a memória há de se certificar de que a verdade construa uma história e uma sociedade cada vez mais justa e humana:
"Se somos a soma de tantas subtrações
Outras gerações vão nos multiplicar
O saldo é a semente plantada nos corações, ações
De outras cabeças que possam sonhar."
Outras gerações vão nos multiplicar
O saldo é a semente plantada nos corações, ações
De outras cabeças que possam sonhar."
Para conferir a letra completa e ouvir a música, acesse o link: https://www.letras.mus.br/raimundo-sodre/484751/
Nenhum comentário:
Postar um comentário