segunda-feira, 13 de março de 2017

Ainda estou aqui

Descrição para cegos: a foto em preto e branco mostra um papel envelhecido com a frase 
“ainda estou aqui”.
Por Cibelle Torres

Nasci em março de 1964 no auge de um governo enfraquecido. O medo do comunismo me gerou rapidamente na mente dos conservadores que há algum tempo clamavam a Deus por liberdade e aos militares por salvação.
Antes de mim a violência e a dor já faziam morada nesta Terra de Santa Cruz. É muito fácil crescer à custa do sofrimento de índios, negros e mulheres, esses porém, também sofreram em minhas mãos, e como sofreram! Estudantes, artistas, jornalistas, trabalhadores... silenciei a todos que pude, o silêncio faria os atos cometidos por mim desaparecerem e a história seria contada de acordo com as minhas verdades.

Reprimi movimentos, sumi com os que desejavam meu fim, censurei os meios de comunicação e torturei, abri meu baú de crueldade e usei de instrumentos e práticas que às vezes não entendo como alguns conseguiram sobreviver.
No ano de 1985, depois de 21 anos no controle, tive que mudar minha maneira de agir. Hoje, alguns dizem sentir a minha falta, mal percebem que me faço presente em cada opressão às classes subalternas, estou por trás de cada violência policial, de cada perseguição aos movimentos sociais, e isso é apenas uma parte da herança que deixei para o Brasil. 

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