quarta-feira, 23 de novembro de 2016

"Qual Julinho? O da Adelaide"

Descrição para cegos: a foto mostra o desenho de um homem de cabelo ondulado e bigode, com duas cicatrizes no rosto, característica do personagem criado por Chico Buarque. Ao fundo, uma manchete de jornal: "O samba duplex e pragmático de Julinho da Adelaide"
Por Gabriela Güllich
Em setembro de 1974, Mário Prata, então repórter no jornal Última Hora, publicou uma entrevista com Julinho da Adelaide, compositor que vinha ganhando fama no espaço da MPB. Nessa entrevista, Julinho contou, entre outras coisas, como acabou ficando conhecido no meio artístico e de onde veio seu nome. “Eu me chamo Julinho da Adelaide porque todo mundo só me chama assim lá no morro. Acontece que a minha mãe é mais famosa do que eu lá no Rio. Minha mãe é célebre(...) O feijão branco dela é conhecido lá no morro. Então todo mundo perguntava assim: qual Julinho? O Julinho da Adelaide”.
Julinho da Adelaide, compositor de sucessos como Acorda Amor, Jorge Maravilha e Milagre Brasileiro foi, na verdade, um pseudônimo criado por Chico Buarque para burlar a censura. A entrevista com Julinho – que no caso era o próprio Chico –, foi feita na casa do pai do artista, o ensaísta Sérgio Buarque de Holanda.
Mário Prata conta que “Antes de começar, o Chico pediu um tempo e subiu para o seu antigo quarto. Ficou uma hora lá e quando desceu e pediu para ligar o gravador já não era ele, mas o Julinho."
Todos na casa entraram na brincadeira. O pai de Chico buscou em um de seus livros uma foto para representar Adelaide, que acabou sendo a foto que ilustrou a matéria. Leonel, irmão de Julinho, citado várias vezes como o orientador de sua carreira e irmão fiel era, na verdade, uma referência ao irmão do próprio Mário Prata.
Julinho tinha duas cicatrizes devido ao violão que fora jogado em sua direção por Sergio Ricardo em um festival de música. Esse acontecimento fez com que o compositor despertasse para a música, mas ao mesmo tempo era o motivo pelo qual não gostava de mostrar o rosto. Com essa desculpa, nenhuma foto de Julinho foi publicada pelo jornal.

Aliás, o incidente do violão atirado na plateia por Sérgio Ricardo é verdadeiro. Aconteceu no III Festival de Música Brasileira, em 1967. O compositor tentou apresentar sua Beto Bom de Bola, música sobre desventura de um craque de futebol no ostracismo. Sem conseguir cantar devido à vaia, Sérgio irritou-se, quebrou o violão e o atirou na plateia. É óbvio que Chico Buarque não foi atingido. Ele estava nos bastidores preparando-se para apresentar Roda Viva, que ficou em 3º lugar nesse festival. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário