Descrição para cegos: a imagem mostra uma nota de 1 cruzeiro carimbada com a frase "Quem matou Herzog?" |
Por Gabriela
Güllich
“A
reprodução dessa peça é livre e aberta a toda e qualquer pessoa”. A frase era usada
por Cildo Meireles ao final de suas produções. O artista defendia uma visão de
arte enquanto meio de democratização da informação e da sociedade. Por esse
motivo, seu trabalho apresentava uma notável preocupação social.
O
cenário político brasileiro na década de 1970 não era, nem de longe, propício
para expressão livre, fosse ela visual, escrita ou falada. Nesse contexto
ocorre, em 25 de outubro de 1975, a morte do jornalista Vladimir Herzog, levado
para um interrogatório do qual nunca mais voltou.
Os
oficiais da repressão declararam que Herzog havia se matado e, para sustentar a
declaração, forjaram uma foto. Analisada, uma série de erros demonstrando a
farsa foram apontados, destacando-se o fato de Vladimir ser mais alto do que a
janela com grade onde supostamente enforcou-se,
A
partir dessa farsa sobre a morte do jornalista, Cildo Meireles decidiu
intervir. A censura era rigorosa na época e qualquer exposição poderia ser
facilmente rastreada. O artista decidiu então carimbar em cédulas de cruzeiro
(moeda da época) a frase “Quem matou Herzog?”. Usando as próprias notas como
ferramenta de circulação da denúncia, ele pode enviar sua mensagem burlando o
sistema de rastreamento dos militares.
Em
uma época marcada por resistência, trabalhos como esse servem para questionar a
função que damos para a arte. A crítica não só perturbava o controle de
informação, ela também trazia outra faceta da arte, fazendo-a passar de apenas
expressão subjetiva para uma expressão de denúncia.
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