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Descrição
para cegos: a imagem mostra a capa do LP
Cantata
pra Alagamar, que é composta por três fotos de
camponeses
reunidos e o nome da obra na parte superior.
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Por Bianca Patrícia
A
Cantata pra Alagamar não se trata da
utilização de uma luta como mero eixo temático para composições, mas da música
como instrumento a serviço do povo para mudar ou resistir a uma realidade
imposta. Sua história começa na fazenda Grande Alagamar, que abrigava centenas
de pessoas que viviam do cultivo de suas terras. Com a morte do seu dono,
Arnaldo Araújo Maroja, em 1975, a propriedade foi vendida, e os seus novos
donos tentaram expulsar os agricultores que ali viviam. Observe-se que o país
vivia sob a ditadura militar.
Deu-se
início ao conflito: de um lado estavam os camponeses com apoio da igreja
católica, intelectuais e militantes. Do outro estavam os novos donos das terras
junto aos seus jagunços, pistoleiros e a Polícia Militar. A cantata tinha como
propósito evidenciar o conflito que estava acontecendo em Itabaiana, indo
contra a iniquidade que tentava suprimir o direito dos agricultores de
continuar nas terras.
O
argentino José Alberto Kaplan - compositor, maestro e professor da UFPB – junto
a Waldemar José Solha – escritor, ator e artista plástico – que já eram grandes
fomentadores da cultura paraibana, aceitaram uma parceria com o arcebispo da
Paraíba, D. José Maria Pires, que foi um dos membros mais importantes para a
realização desse movimento em geral. Com grande adesão dos integrantes da Camerata
Universitária da UFPB, essa cantata secular começou a ser produzida, tendo como
ponto de partida o Hino de Alagamar, composto em forma de cordel pelo camponês
Severino Izidro.
As
canções, ricas em poesia, foram do cordel ao martelo agalopado, tendo intrínsecas
um ritmo intimamente nordestino. Quando as apresentações começaram, havia um
perigo muito claro: as composições atacavam não só ao poder econômico dos novos
donos da terra como também burlavam normas da censura, por não terem passado
pelo crivo da Polícia Federal. Com repressões amenizadas pela presença de
autoridades da igreja católica, as manifestações continuavam, tendo como local
principalmente igrejas em João Pessoa e Itabaiana.
A
Cantata pra Alagamar foi gravada,
lançada em disco e vendida pelo Brasil sem nenhuma submissão à censura – novamente
uma transgressão, pois, naquela época, qualquer obra artística ou cultural só
podia ser levada ao público depois de submetida e autorizada pelo Serviço de
Censura e Diversões Públicas do Ministério da Justiça. Sem dúvidas, um feito
histórico, à altura do episódio retratado na obra artística, que contribuiu
para dar voz e visibilidade à luta camponesa pela terra.
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