quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O legado de Linda Bimbi

Descrição para cegos: a imagem mostra um desenho de Linda Bimbi feito por Gabriela Güllich

Linda Bimbi foi uma ex-freira italiana que lutou pelos direitos humanos. Educadora, atuava na linha de pedagogia freireana, apoiando marginalizados e perseguidos pela ditadura no Brasil. Nos anos 1970, participou da organização do Tribunal Russell II, para os crimes contra a humanidade cometidos pelos governos militares na América Latina. Serviu à Fundação Internacional pelo Direito e Liberdade dos Povos, e ao Tribunal Permanente dos Povos, além de ser responsável também pela escola de Jornalismo da Fundação Lelio e Lisli Basso. A pedagoga morreu no último dia 11, aos 91 anos. Em uma homenagem no Facebook, a professora Lúcia Guerra falou um pouco do legado de Linda Bimbi. (Marina Cabral)

Linda Bimbi (1925-2016) homenagem a uma educadora e defensora dos direitos humanos

Lúcia de Fátima Guerra Ferreira*


No dia 11 de agosto de 2016, aos 91 anos, faleceu Linda Bimbi, italiana que morou vários anos no Brasil, em Minas Gerais e no Amapá, inicialmente como religiosa da Congregação das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, onde era a Irmã Rafaela. Quando saiu da instituição eclesiástica, passou a integrar uma pequena comunidade de ex-freiras comprometidas com as transformações sociais.
Devido à sua atuação na linha da pedagogia freireana, no apoio aos marginalizados e perseguidos pela repressão da ditadura militar, tornou-se inviável a sua permanência no Brasil e retornou à Europa logo após o AI-5. Fixou-se na Itália no início dos anos de 1970 e trabalhou com Lelio Basso na preparação e realização do Tribunal Russell II para os crimes contra a humanidade cometidos pelos governos militares na América Latina, com suas três sessões ocorridas em Roma – 1974, Bruxelas – 1975, e Roma – 1976.
Dedicou-se à Fundação Internacional pelo Direito e Liberdade dos Povos, com Lelio Basso, e ao Tribunal Permanente dos Povos, com Gianni Tognoni. Também era responsável pela escola de jornalismo da Fundação Lelio e Lisli Basso.
A conheci em fevereiro de 2013, quando estive na Fundação Lelio e Lisli Basso, como pesquisadora no projeto “Digitalização do acervo da Fundação Lelio Basso - Tribunal Russell II”, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em convênio com o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba.
A impressão que tive foi a melhor possível, pela sua atenção e comentários sobre o seu tempo no Brasil. Com sua fala serena e mansa, já um pouco cansada pela idade, dedicou bastante tempo à nossa conversa, e presenteou-me com dois livros de sua autoria: “Lettere a um amico: Cronache di liberazione al femminile plurale” (1990), e “Sono emigrante: Luiza Erundina si racconta a Linda Bimbi” (1996). Além de mim, a equipe brasileira contou com a estagiária Arlene Xavier Santos Costa, que também teve a atenção de Linda Bimbi, falando sobre a sua permanência no Amapá, por coincidência terra de nascimento de Arlene.
Na ocasião, percebi todo respeito e cuidado que todos da Fundação tinham por Linda Bimbi, em especial as brasileiras Monica (nascida Maria Elvira Gomes) e Ruth (Maria Inês Libânio, prima de Frei Betto), ex-freiras como Linda que trabalharam com ela em Minas Gerais e a acompanharam para vida em Roma.
O mundo perde uma educadora e defensora de todos os povos oprimidos, mas a sua trajetória servirá de exemplo para a continuidade da luta contra a violação dos direitos humanos, independente de fronteiras nacionais.
Viva o legado de Linda Bimbi!


*A autora é professora do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba, Coordenadora do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da instituição e integrante da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória

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