Descrição para cegos: a imagem mostra um desenho de Linda Bimbi feito por Gabriela Güllich |
Linda Bimbi foi uma ex-freira italiana
que lutou pelos direitos humanos. Educadora, atuava na linha de pedagogia
freireana, apoiando marginalizados e perseguidos pela ditadura no Brasil. Nos
anos 1970, participou da organização do Tribunal Russell II, para os crimes
contra a humanidade cometidos pelos governos militares na América Latina.
Serviu à Fundação Internacional pelo Direito e Liberdade dos Povos, e ao
Tribunal Permanente dos Povos, além de ser responsável também pela escola de Jornalismo
da Fundação Lelio e Lisli Basso. A pedagoga morreu no último dia 11, aos 91
anos. Em uma homenagem no Facebook, a professora Lúcia Guerra falou um pouco do
legado de Linda Bimbi. (Marina Cabral)
Linda
Bimbi (1925-2016) homenagem a uma educadora e defensora dos direitos humanos
Lúcia de Fátima Guerra Ferreira*
No
dia 11 de agosto de 2016, aos 91 anos, faleceu Linda Bimbi, italiana que morou
vários anos no Brasil, em Minas Gerais e no Amapá, inicialmente como religiosa
da Congregação das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, onde era a Irmã
Rafaela. Quando saiu da instituição eclesiástica, passou a integrar uma pequena
comunidade de ex-freiras comprometidas com as transformações sociais.
Devido
à sua atuação na linha da pedagogia freireana, no apoio aos marginalizados e
perseguidos pela repressão da ditadura militar, tornou-se inviável a sua
permanência no Brasil e retornou à Europa logo após o AI-5. Fixou-se na Itália
no início dos anos de 1970 e trabalhou com Lelio Basso na preparação e
realização do Tribunal Russell II para os crimes contra a humanidade cometidos
pelos governos militares na América Latina, com suas três sessões ocorridas em
Roma – 1974, Bruxelas – 1975, e Roma – 1976.
Dedicou-se
à Fundação Internacional pelo Direito e Liberdade dos Povos, com Lelio Basso, e
ao Tribunal Permanente dos Povos, com Gianni Tognoni. Também era responsável
pela escola de jornalismo da Fundação Lelio e Lisli Basso.
A
conheci em fevereiro de 2013, quando estive na Fundação Lelio e Lisli Basso,
como pesquisadora no projeto “Digitalização do acervo da Fundação Lelio Basso -
Tribunal Russell II”, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em
convênio com o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Universidade Federal
da Paraíba.
A
impressão que tive foi a melhor possível, pela sua atenção e comentários sobre
o seu tempo no Brasil. Com sua fala serena e mansa, já um pouco cansada pela
idade, dedicou bastante tempo à nossa conversa, e presenteou-me com dois livros
de sua autoria: “Lettere a um amico: Cronache di liberazione al femminile
plurale” (1990), e “Sono emigrante: Luiza Erundina si racconta a Linda Bimbi”
(1996). Além de mim, a equipe brasileira contou com a estagiária Arlene Xavier
Santos Costa, que também teve a atenção de Linda Bimbi, falando sobre a sua
permanência no Amapá, por coincidência terra de nascimento de Arlene.
Na
ocasião, percebi todo respeito e cuidado que todos da Fundação tinham por Linda
Bimbi, em especial as brasileiras Monica (nascida Maria Elvira Gomes) e Ruth
(Maria Inês Libânio, prima de Frei Betto), ex-freiras como Linda que
trabalharam com ela em Minas Gerais e a acompanharam para vida em Roma.
O
mundo perde uma educadora e defensora de todos os povos oprimidos, mas a sua
trajetória servirá de exemplo para a continuidade da luta contra a violação dos
direitos humanos, independente de fronteiras nacionais.
Viva
o legado de Linda Bimbi!
*A autora é
professora do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba,
Coordenadora do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da instituição e
integrante da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória
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