segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O Pasquim: jornalismo criativo e de resistência

Descrição para cegos: a imagem contém um papel escrito "O Pasquim" e logo abaixo "a subversão do humor". 

Por Bianca Patrícia

O Pasquim foi um semanário alternativo brasileiro de grande importância na oposição ao regime militar que dialogou intensivamente com a contracultura à medida em que a repressão crescia no país. Foi idealizado no final de 1968 pelo cartunista Jaguar (Sérgio Jaguaribe), e pelos jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral.
Teve a sua primeira edição em 26 de junho de 1969, mesmo ano em que foi instaurada a censura prévia aos meios de comunicação no país. Resultou em um grande sucesso editorial: em seu auge chegou a alcançar uma tiragem de 200 mil exemplares.

O nome do jornal, proposto por Jaguar, que significa “jornal difamador” ou “folheto injurioso”, representava a consciência de seus autores a respeito das críticas que estariam por vir a cada uma de suas edições. O formato criativo, irônico e inteligente d’O Pasquim, muitas vezes, desafiava a inteligência dos censores que, sem entende-lo, acabavam por permitir a publicação de conteúdos, por mais controversos que fossem à ideologia estabelecida e reproduzida pelos militares.
Contando com a participação de figuras de destaque na imprensa brasileira como Ziraldo, Millôr Fernandes, Henfil, Paulo Francis e outros, esse jornalismo de resistência alternativo tornou-se um modelo imitado por diversos periódicos posteriores.
Em 1970, após a publicação de uma sátira do conhecido quadro de Dom Pedro às margens do Ipiranga, a maior parte da redação do jornal foi presa. Todavia, suas atividades foram mantidas mediante a editoria de Millôr e com a colaboração de intelectuais cariocas como Chico Buarque e Gláuber Rocha. Essa atuação contrariou as expectativas dos militares, que aspiravam a saída de circulação do semanário e a perda de interesse de seus leitores.
O Pasquim ainda enfrentou boicote de anunciantes pressionados pela ditadura, atentados a bomba, incêndios nas bancas que o vendiam e novas prisões de integrantes da sua redação.
Seu pioneirismo abriu espaço para novas publicações de oposição ao regime, algumas que sequer tinham viés humorístico ou satírico, como Opinião e Movimento, mas que assimilaram as estratégias de produção e circulação do semanário carioca.
Nos últimos anos da ditadura, com quase toda a imprensa já na oposição ao regime – a exceção era o grupo Globo – o jornal entrou em declínio, mas resistiu até 11 de novembro de 1991, quando circulou sua última edição.
Vale a pena conhecer mais sobre a história desse jornal, contada em livros e documentários como O Pasquim – A Subversão pelo Humor, lançado em 2004 pela TV Câmara, rico de depoimentos de seus fundadores. Veja aqui:
  

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