Descrição para cegos: a imagem mostra um desenho do rosto de Wolinski. |
por Carmélio Reynaldo
No início dos anos 70, sob censura,
catando nas livrarias e bancas de revista, era possível encontrar algo para ler
que proporcionasse satisfação a quem não se conformava com o discurso de
exaltação à ditadura. É o caso da revista O
Grilo, na qual conheci o trabalho de Wolinski.
De suas histórias, uma me persegue
todos esses anos. A morte de Wolinski, ontem, num ataque terrorista à revista Charlie Hebdo, onde trabalhava, terminou
a construção dessa sombra que vai me cobrar mais indignação diante da violência
como política.
A história a que me refiro contava
o sequestro de um cidadão comum por um grupo armado em conflito com um Estado.
O grupo, diante da apatia da opinião pública, radicaliza raptando uma pessoa
escolhida a esmo, pretendendo, assim, mostrar à sociedade que qualquer um pode
ser atingido pelo conflito, pelas questões políticas, mesmo quando tenta se
manter à margem, indiferente.