quarta-feira, 3 de maio de 2017

Taiguara: o homem que cantou um sonho hereditário

Descrição para cegos: foto do cantor e compositor
 Taiguara sorrindo para a câmera, com a cabeça e
um dos ombros apoiados em uma janela.
Por Rebeca Neto

        No dia 19 de abril, Moína Lima, filha do cantor Taiguara, escreveu uma carta aberta para pessoas que criticaram seu posicionamento político. No texto, Moína narrou algumas das experiências vividas derivadas das perseguições ao seu pai, as quais, segundo ela, foram importantes construções na sua formação sobre o tema. Com orgulho, afirmou que é filha de comunista, também é de esquerda e que assim continuará.
        Taiguara Chalar da Silva teve, aproximadamente, 70 de suas canções vetadas pelo Departamento de Censura Federal. Ele foi, comprovadamente, o autor de MPB mais perseguido da ditadura. Nascido no Uruguai, poucas vezes Taiguara pôde se firmar em um local. Recife, São Paulo e Rio de Janeiro foram alguns dos lugares que o abrigaram, enquanto não descobriam os novos refúgios.

Ele viveu duas vezes o auto exílio. O primeiro deles ocorreu em 1973, ano em que decidiu não se apresentar mais, como forma de protesto contra a censura. Dessa vez, seu destino foi a Inglaterra, onde lançou o primeiro disco de um brasileiro censurado no próprio país, cujo título é Let the Children Hear the Music. A segunda vez em que Taiguara deixou seu lar foi em 1976, pouco tempo após voltar de seu primeiro auto exílio. Ele, então, passou anos viajando pela África e Europa.
Em 1983, quando finalmente retornou, continuou decidido a não cantar em público enquanto o Brasil não vivesse a democracia e, assim, passou a militar politicamente em busca desse sonho. No entanto, pouco tempo depois, foi convencido por alguns amigos de que o melhor protesto que poderia fazer era a música. Taiguara, portanto, cantou o seu grande sonho: Canções de Amor e Liberdade, álbum originalmente lançado naquele ano.
A canção Moína me Sorriu, daquele mesmo disco, não deixa dúvidas quanto à mensagem que Taiguara gostaria que sua filha compreendesse. Com apenas sete anos, Moína ouviu seu pai cantar que “é preciso ferir” e “não abrir mão do ideal de um mundo igual”. Hoje, ela lhe sorri defendendo seus ideais.
Taiguara morreu por falência múltipla de órgãos, em decorrência de um câncer na bexiga, aos 50 anos. Tempo suficiente para gravar mais de 140 músicas, dentre as quais Hoje, Teu Sonho Não Acabou, Universo no Teu Corpo, Viagem, Cavaleiro da Esperança, Estrela Vermelha e Paz do Meu Amor. Apesar da morte precoce, ele fez do seu sonho uma herança, não somente para seus filhos, mas para um Brasil que tem sede de igualdade.

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